terça-feira, dezembro 07, 2004

A relação Homem-Computador

O computador tende a provocar fortes reacções, sejam elas de grande entusiasmo ou de violenta crítica. Por detrás de manifestações tão extremas está certamente o facto de o computador mexer com aspectos fundamentais das nossas concepções, dos nossos gostos e dos nossos desejos. Sherry Turkle conduziu um estudo em larga escala, entrevistando longamente mais de centena e meia de crianças e adultos para tentar descobrir a maneira como viam e como se relacionavam com o computador. Segundo ela, o computador desempenha para as crianças três tipos de papéis diferentes, conforme o seu nível de desenvolvimento. As crianças mais novas, com menos de sete ou oito anos, mostram-se preocupadas com o facto do computador possuir ou não vida própria. Para elas é muito difícil de explicar se se trata de um objecto animado ou inanimado, se é ou não capaz de pensar e sentir. As crianças mais velhas aparentam poucas preocupações especulativas sobre a natureza do computador e querem acima de tudo dominá-lo, quer através da prática dos jogos, quer através da aprendizagem da programação. Finalmente, na adolescência, a grande questão passa a ser a da identidade individual. Trabalhar com o computador é uma experiência pessoal tão intensa que nesta idade de incerteza e de indefinição constitui uma nova oportunidade de reflectir sobre a sua própria identidade. (...) Aquela investigadora resume as suas conclusões dizendo que o computador é um objecto evocativo. Isto é, o computador provoca fortes reacções, positivas ou negativas, atrai irresistivelmente todos os que de alguma forma contactam com ele. É um meio onde nos projectamos, onde mostramos o que somos e nos reconhecemos, um meio que nos dá um novo conhecimento de nós mesmos.

PONTE, João Pedro da. As novas tecnologias e a educação. Texto Editora