quinta-feira, dezembro 09, 2004

O computador e os afectos

A fácil interactividade com o computador permite aos alunos um ambiente de aprendizagem inteiramente novo. E, de facto, basta ver alunos a trabalhar com um computador para observar evidentes sinais de entusiasmo, deliberação, debate e concentração intensa. O trabalho com o computador pode provocar profundas reacções no plano afectivo. Benoit Cote estudou o comportamento de um grupo de alunos dum curso de formação de professores do ensino primário que foi conduzido com a linguagem LOGO num contexto de livre exploração e projectos individuais. As reacções destes alunos foram simultaneamente de fascínio e de irritação. Este autor põe o acento tónico no aspecto positivo, o fascínio. Mas em muitos alunos o sentimento de frustração pode tornar-se dominante e afastá-los do computador. Muitas crianças passam toda a sua vida escolar em permanente receio de serem chamadas a responder às perguntas do professor. Ninguém gosta de ser colocado em evidência, especialmente quando está pouco à vontade num dado assunto. Mas a relação entre o computador e o aluno é totalmente impessoal. Assim, pelo menos para muitos estudantes, um erro deixa de ser um motivo de grande embaraço que é preciso evitar a todo o custo e passa a ser algo que serve para aprender. Este aspecto foi largamente explorado nos programas tradicionais de prática, que para facilitar o processo de aprendizagem procuravam satisfazer duas condições: a individualização e o feedback instantâneo. Com isso pretendia-se desenvolver ao aluno um certo controlo do seu próprio processo de aprendizagem e uma certa segurança, levando-o a vencer os seus receios e a entregar-se totalmente ao trabalho. (...) O computador pode contribuir para desenvolver o espírito de persistência e a motivação intrínseca dos alunos. É bem conhecido como o computador arrasta certos jovens para horas ininterruptas de trabalho. Ele exerce uma inegável atracção que pode ajudar a desenvolver um espírito de persistência na resolução de certas tarefas. Mas este espírito não tende a desenvolver-se igualmente em qualquer tipo de interacção com o computador. É no trabalho de programação, a tarefa intelectualmente mais exigente, que ele parece desenvolver-se mais claramente. Papert distingue dois tipos de aprendizagem, a sintónica e a dissociada. Na aprendizagem sintónica o aluno empenha-se profundamente, relacionando o que está a aprender com o seu conhecimento preexistente. Na aprendizagem dissociada intervém essencialmente a memorização e o aluno como que procura colocar os novos conhecimentos em compartimentos isolados. Segundo ele, o computador torna mais fáceis situações em que se trabalha com um propósito bem definido, o que permite o desenvolvimento de aprendizagens sintónicas. O processo passa a ser mais activo e dirigido pelo próprio aluno.

PONTE, João Pedro da. As novas tecnologias e a educação. Texto Editora


1 Comments:

At 10:52 da tarde, Blogger Elisa de Castro Carvalho said...

Na modernidade o indivíduo enfrenta vários desafios e problemas, por um lado, vê-se despojado dos seus valores e raízes culturais, por outro lado, o ritmo desenfreado dos dias de hoje e a ausência de padrões ou orientações coloca o indivíduo numa situação de isolamento.
A internet revela-se, assim, numa forma de o indivíduo procurar novas amizades, novas identidades que, se revelam vitais para todos aqueles que se encontram isolados física e psicologicamente.
Porém, o uso excessivo da internet pode inverter este processo. Ao passarem demasiado tempo em frente ao computador as pessoas, principalmente as crianças, podem incorrer no risco de se afastarem e isolarem do meio social e familiar em que estão inseridos, o que, em última análise poderá levar ao isolamento total, a nível físico, do indivíduo.

 

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