terça-feira, fevereiro 22, 2005

Módulo 2 – Teorias no domínio da educação a distância

Teoria da industrialização

Em 1967 Otto Peters comparava a educação a distância com o processo de produção industrial, e sugeria que o ensino a distância é um produto da sociedade industrial. Ambos têm características comuns tais como:
- a divisão de tarefas;
- a mecanização;
- a produção em massa;
- a padronização;
- a centralização.

Otto Peters refere que o processo produtivo “racionaliza-se”, ou seja, criam-se iniciativas com vista a obter uma diminuição dos gastos de energia, tempo e dinheiro. No que concerne a educação a distância, esta “racionalização” manifesta-se em:

1) divisão de tarefas e especialização de funções:
- conduz a uma crescente especialização da mão-de-obra mas simultaneamente diminui os períodos de formação e permite habilitar um maior número de pessoas para a execução de determinadas tarefas;
- a divisão do trabalho constitui o principal pré-requisito para que o estudo universitário a distância possa ser efectivo.

2) mecanização do processo produtivo:
- a mecanização significa o uso de máquinas num processo de trabalho, existindo diversos graus de mecanização;
- a educação a distância corresponde a um processo de industrialização em que o recursos a sistemas de comunicação eficazes e à utilização de máquinas e processos industriais de produção de materiais pedagógicos é essencial.

3) criação de linhas de montagem:
- o trabalhador permanece no seu local de trabalho sendo as peças que se deslocam ao longo de uma sequência de trabalhadores;
- o processo de produção dos materiais de ensino é de facto um processo industrial. Ex.: criação e reprodução dos manuais escolares dos diferentes níveis de escolaridade.

4) produção em massa:
- a divisão de tarefas, a especialização da mão-de-obra, a mecanização do processo produtivo e a organização da produção em linhas de montagem foram determinantes na produção de bens em grandes quantidades;
- ao nível do ensino a distância, a “produção em massas” manifesta-se pela produção de grandes quantidades de materiais de estudo e pelo grande número de estudantes.

5) importância do trabalho preparatório e do planeamento:
- no processo produtivo há que existir uma cuidadosa fase de preparação em que são estabelecidos os papéis e inter-relações entre os intervenientes do processo (homem, máquina, material);
- na educação a distância há um processo similar na desenho dos cursos e preparação dos materiais de estudo.

6) formalização de processos:
- há uma necessidade acrescida das várias fases de produção de modo a que a cooperação entre todos os intervenientes seja possível;
- adoptar medidas e processos de formalização podem ser identificadas no ensino a distância.

7) padronização dos produtos:
- característica dos processos industriais de produção que envolvem alta tecnologia e divisão de tarefas permitindo produzir bens em grande número e a custos reduzidos;
- a mecanização dos processos de produção de materiais de ensino e a divisão de funções relacionados com o ensino permitiu às instituições de ensino a distância dirigirem-se a um público numeroso.

8) mudanças de funções:
- as funções dos trabalhadores sofreram modificações com a industrialização, devido à divisão de tarefas e à mecanização;
- comparativamente ao ensino tradicional, também os professores de ensino a distância confrontaram-se com a mudança de funções.


9) aumento da objectividade ao nível do processo produtivo:
- o processo produtivo tornou-se mais objectivo, ou seja, menos sujeito à influência de cada um dos trabalhadores envolvidos;
- o aumento de “objectividade” no processo de ensino é fundamental. Só com um grande grau de objectividade associada ao desenho e produção dos materiais de ensino, bem como a aspectos ligados à avaliação e apoio aos estudantes é possível “reproduzir” e promover situações de ensino a distância que possam ser disponibilizadas para um grande número de estudantes.


10) concentração e centralização:
- no ensino a distância é necessário existir um determinado número de estudantes de modo a assegurar a viabilidade da criação de uma organização eficiente e de instalações técnicas adequadas;
- o ensino a distância é uma opção viável do ponto de vista económico se se concentrarem os recursos e se se adoptar um modelo de administração centralizado.



Teorias da autonomia e independência

Nestas teorias aborda-se a problemática da teorização no domínio da educação a distância centrando-se no estudante e nas noções de “autonomia” e “independência”.

Rudolf Delling:
- perspectiva o estudante como autónomo e independente e como sendo o elemento central de qualquer processo de educação a distância.


Charles Wedemeyer:
- define o conceito de “estudo independente” que utiliza em detrimento da expressão educação a distância.

Michael Moore:
- desenvolve o conceito de “distância transaccional”, a partir do qual se determina o grau de autonomia permitido ao estudante pelos diferentes modelos de educação a distância.

Farhad Saba:
- parte do modelo de Michael Moore acrescentando-lhe o conceito de “contiguidade virtual” para reforçar a ideia da necessidade de aproximar professores e estudantes, optimizando o diálogo entre eles e eliminando as más consequências da separação física.

John Verduin e Thomas Clark:
- partem também do conceito de “transacção educacional” e propõem um modelo tridimensional de análise dos sistemas de educação a distância considerando três conceitos (diálogo/apoio; estrutura/competências especializadas; competências gerais/auto-determinação).


Teorias de interacção e comunicação

Nestas teorias incluem-se reflexões no domínio das teorias da educação a distância baseadas nas noções de “interacção” e de “comunicação”.

Börge Holberg:
- apresenta o modelo de “comunicação didáctica guiada”, centrando-se na componente da interacção a dois níveis, entre o estudante e o tutor ou conselheiro e entre o estudante e os materiais de ensino, especificamente preparados para o efeito.

John A. Bååth:
- refere-se à necessidade de se estabelecerem formas de comunicação bidireccional entre os estudantes e professores ou as instituições de ensino, considerando que o tutor é a chave para o conceito de conceito de comunicação bidireccional.

David Sewart:
- reforça a importância de um mediador ou tutor que permita adaptar as situações de ensino a distância às características individuais de cada estudante.

Kevin Smith:
- preconiza a utilização de material de estudo que permita ao aluno de trabalhar de forma autónoma;
- considera que devem ser contempladas situações obrigatórias de contacto entre estudantes e professores.

John S. Daniel:
- os sistemas de educação a distância compreendem actividades em que o aluno trabalha isoladamente(“actividades independentes”) e actividades que põem o estudante em contacto com outras pessoas (“actividades interactivas”).

D. R. Garrison:
- centra a educação a distância no conceito de “transacção educacional” e de “controlo”.