terça-feira, fevereiro 22, 2005

Módulo 1 – Dos conceitos às teorias


Afinal, o que é a Educação a Distância?


Definir este conceito não é tarefa fácil.

Autores que se pronunciaram acerca do assunto:

Luís Sauvé refere a existência de muitas definições, de acordo com diferentes autores e contextos. A definição do conceito vai depender sempre da visão que cada autor tem da educação e do ensino.

Charles Wedemeyer considera que há ambiguidade e imprecisão na significação atribuída aos termos ‘educação a distância’.

Simonson, Smaldino, Albright e Zvacek referem três aspectos que dificultam a definição do conceito, como o facto do termo ‘distância’ poder assumir diferentes acepções’, o facto de haver muitos programas e situações incluídas na designação e o rápido avanço tecnológico.

Armando Rocha Trindade realça o facto de existirem diferentes contextos de aprendizagem nos quais é utilizada a expressão.

Keegan refere que o que é crucial é a distância entre os actos de ensino e os actos de aprendizagem e não a separação geográfica entre professor e aluno.

Garrison admite que a melhor opção teria sido adoptar a expressão “education at a distance”.

Desmond Keegan foi um dos autores que mais se preocupou em clarificar o termo. Ele indica seis características essenciais:

“1) the separation of teacher and learner which distinguishes it from face-to-face lecturing
2) the influence of an educational organisation which distinguishes it from private study
3) the use of technical media, usually print, to unite teacher and learner and carry educational content
4) the provision of two-way communication so that the student may benefit from or even initiate dialogue
5) the possibility of occasional meeting for both didactic and socialisation purposes
6) the participation in an industrialised form of education which, if accepted, contains the genus of radical separation of distance education from other forms”

Estas seis características têm sido alvo de muitas críticas.
Garrison, por exemplo, considera que é uma perspectiva muito condicionada pela educação por correspondência, não havendo situações de ensino a distância em grupo. Garrison critica também a referência à presença de características “industriais” da educação a distância. Importa dizer que Keegan foi alterando o seu pensamento à medida que surgiam mudanças no domínio tecnológico e na área da educação a distância. No seu livro “Foundations of distance education” (1996), Keegan reformula algumas das suas afirmações. Reconhece a possibilidade de, numa situação de educação a distância, ocorrerem cenários de contacto presencial entre professor e alunos, ainda que de forma esporádica. Acrescenta que estes tanto podem ocorrer presencialmente como através de meios electrónicos. Keegan eliminou ainda a referência à educação a distância como uma forma “industrializada” de educação, resultado de algumas críticas de alguns autores.

Verduin e Clark propõem quatro características da educação a distância:
“1) the separation of teacher and learner during at least a majority of the instructional process
2) the influence of an educational organization, including the provision of student evaluation
3) the use of educational media to unite teacher and learner and carry course content
4) the provision of two-way communication between teacher, tutor, or educational agency and learner.”

Holmberg refere que numa situação de educação a distância há a existência de comunicação não-contígua, isto é, não-presencial. Assim, a educação a distância tem dois elementos básicos: conteúdos de ensino através de materiais pré-preparados aos quais está subjacente um modelo de comunicação unidireccional (“comunicação simulada”), o estabelecimento de comunicação bi-direccional entre os estudantes e a “organização de suporte”.


Como podemos constatar, há uma grande diversidade de definições, fruto das diferentes perspectivas dos autores e da evolução tecnológica que se vem registando neste domínio. Por este motivo, Garrison propõe que se adopte a sugestão de Garrison e Shale de considerar um conjunto mínimo de “criteria”:

“1) distance education implies that the majority of educational communication between (among) teacher and student(s) occurs noncontiguously
2) distance education must involve two-way communication between (among) teacher and student(s) for the purpose of facilitating and supporting the educational process
3) distance education uses technology to mediate the necessary two-way communication.”

Teorização do ensino a distância

A “teorização” na educação a distância é muito recente. A falta de teorização nesta área enfraqueceu o próprio conceito, situando a educação a distância na periferia da educação. A partir da década de 70 começam a surgir teorias no âmbito da educação a distância, mas devem colocar-se algumas reservas ao termo “teoria”, tal como muitos autores o fizeram (Moore, Perraton, Keegan, Devlin, Delling...).
Michael Moore defende uma multiplicidade de teorias no âmbito da educação a distância, ideia também partilhada por Farhad Saba.

Desmond Keegan, no livro “The Foundations of Distance Education” (1996), refere que as abordagens teóricas em torno da educação a distância podem ser sistematizadas em:

1) Teoria da industrialização (primeira grande estruturação teórica da educação a distância, cujo representante é Otto Peters)
2) Teorias da autonomia e independência
3) Teorias de interacção e comunicação